Entrevista - Orlando Pinho
“Um lugar de encontro, troca de repertórios, intercâmbio semiótico, espanto criador, contato afetivo”. É assim que Orlando Pinho define sua “Área de Convivência”, espaço expositivo que lhe cabe na Galeria ENTRE* – e que estará aberto à visitação pública a partir do dia 06 de abril.
Conviver com diversos processos artísticos não é novidade para ele. Orlando é autodidata, com interesses, estudos e atuação dirigidos para as produções de linguagens artístico-contemporâneas com intervenções na poesia, na música e na arte em geral, num amplo espectro relativo à sua criação e difusão. Foi um dos criadores, ao lado de Marilda Santanna, Tuca de Moraes e Jorge Albuquerque, do o prêmio de música Troféu Caymmi e possui uma rica atuação como letrista, vocalista e coordenador cultural.
É a partir de toda essa experiência que ele está encarando de frente a provocação feita por Alexandre Guimarães para ser um dos seis artistas participantes da Galeria ENTRE, concebendo obras em ambientes distintos (Sala, Quarto, Cozinha, Banheiro e Área de Convivência) através das informações não verbais presentes em uma wearable art.
Por que você acha que ficou com a “área de convivência” na Galeria ENTRE?
Orlando Pinho – Observando bem a localização, é um lugar de passagem comunicacional – com vários portais.
Você se identificou com a peça fornecida por Alexandre para sua criação no espaço?
Orlando Pinho – A peça é uma roupa-signo, capa-problema: encontro, interseção de objetos, onde a arte reflexiona, produz interrogações. E é, ao mesmo tempo, uma projeção de comunicação imediata. Fiquei instantaneamente alegre vendo-a, mediando-a (ao vesti-la) e sendo mediado por ela. Pensada numa poética para a ficção Orlando Pinho que paira por aí em diversos planos. Contente e grato, fico.
Ela tem alguma relação com o trabalho artístico que você vem desenvolvendo ultimamente?
Orlando Pinho – Tem relação direta com meu trabalho atual, sim, que envolve muito de performance, intersemioticidade e experimentação; se constitui num desdobramento do que me interessa: processos de criação em aberto e reflexão, com os quais me envolvo desde os 70 através do Grupo de Estudos de Linguagem, Revista Semiótica, Poema-Processo, Grupo Pulsa etc. Hoje atuo no Dominicaos, evento que está em sua edição 50 – existe desde 2013 – e é um dos espaços de experimentação artística livre dos mais significativos em Salvador, e que já teve a participação do ENTRE durante uma de suas edições. Pra mim, mais que boa, esta é uma situação extraordinária.
Você, como Paula Lice, tem uma relação direta com a palavra. Ela estará presentes em sua obra?
Orlando Pinho – Sim, a palavra estará presente mais especificamente numa coisa que escrevi pensando na situação que o Alexandre me propôs, e ficará impressa numa das paredes da galeria. Estarei me expressando vocalmente também de forma verbal e/ou puramente sonora, com o Oco do Átomo, em duo com Heitor Dantas, que opera instrumentos inventados.
Você já havia participado de algum processo semelhante ao da ENTRE anteriormente? Em que ele lhe instiga?
Orlando Pinho – Pensado deste modo, vetorializado criadoramente desta forma, não; me instiga pela hipótese de abertura, transporte, revelação sensorial, multiplicação de sentidos.
Como você descreveria o trabalho que está desenvolvendo para a Galeria ENTRE?
Orlando Pinho – A partir do signo criado por Alexandre desenvolvo um diálogo com ele, desdobrando-o no espaço. Aí entram elementos, orgânicos, visuais, sonoros, aproximações e apropriações diversas que conduzam a um envolvimento total do público.
Confira abaixo o vídeo Amor Sem Letra [Heitor Dantas - Orlando Pinho] por Tuzé de Abreu, em Novas Aventuras no País do Som:
*Com entrada franca, a Galeria ENTRE estará aberta ao público a partir do dia 06 de abril e até o dia 07 de maio, sempre de quarta a sábado, das 14h às 20h, e aos domingos, das 14 às 18h, numa casa do boêmio bairro do Rio Vermelho (Rua Odilon Santos, 190). O projeto foi contemplado pelo Edital 06/16 Setorial de Artes Visuais do Fundo de Cultura do Governo do Estado da Bahia.