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Entrevista Alexandre Guimarães

Faltam poucas horas para Alexandre Guimarães realizar o sonho da “casa própria”... É ele o grande nome por trás da Galeria ENTRE, que recebe o público a partir dessa quinta-feira, dia 06 de abril. Mas já faz muito tempo que o designer de moda e estilista baiano mergulha na ideia de produzir wearable arts capazes de desencadear processos criativos que fogem inteiramente ao seu controle. Mais precisamente, desde 2012, quando foi contemplado pelo Edital de Artes Visuais do Fundo de Cultura do Estado da Bahia e deu início ao Volume I do projeto “ENTRE: Objetos para vestir, diálogos sensíveis”.

Indiretamente, o projeto nascia de questionamentos que Alexandre fazia em relação à Moda: “Principalmente em relação à Indústria da Moda, onde os laboratórios criativos vem sendo preteridos pelo volume de vendas, independente do budget da marca”. A verdade é que, como estilista, questões como público alvo, cenário, tendências e imagem de marca sempre estiveram presentes na hora em que ele partia para a criação de uma coleção. Portanto, o desejo de confeccionar indumentárias que dialogassem com formas, materiais, dentre outros signos distintos do universo da moda, sempre fizeram parte desse processo.

O ENTRE surge desse desejo, somado ao anseio de promover um diálogo entre diferentes linguagens artísticas”, define Alexandre, que “esclarece” aqui alguns pontos do Volume II do projeto que desconstruiu suas próprias criações, que criou obras assinadas por outros artistas e que ganha agora Sala, Quarto, Banheiro, Cozinha e Área de Convivência. (Na foto de Leto Carvalho, Alexandre em sua casa) Como você enxerga a relação entre Moda e Artes Visuais – e como é a sua relação com as duas áreas hoje? Alexandre Guimarães – Ao longo da história sempre houveram interseções entre Moda e Arte Visuais. Estilistas como Poiret, Schiaparelli, Saint Laurent, Kawakubo e Chalayan são exemplos disso. Pessoalmente vejo a moda como uma arte aplicada que está diretamente associada ao movimento. Ela é efêmera e cíclica. Seja produzindo artigos de moda sob medida, figurino ou wearable art, meu trabalho hoje transita entre ambas as linguagens artísticas. ENTRE é um projeto que dialoga com a Moda também? Alexandre Guimarães – Com a Moda sim, mas com a Indústria da Moda, não. É importante entender a distinção. O ENTRE não possui qualquer semelhança com o produto de moda e seu público alvo consumidor. Qual foi o ponto de partida para o ENTRE – Volume II? Alexandre Guimarães – Ele surge como sequência do último capítulo (Capítulo 8) da primeira edição, onde os convidados Lucas Moreira e Mayra Lins conceberam uma instalação e um videoarte dentro da residência do artista visual. A indumentária fornecida passou a permear não mais apenas um possível corpo que a veste, e sim o espaço em que ele habita. A partir disso, a relação do objeto para vestir com o espaço tornou-se protagonista e um novo desmembramento do projeto surge focado em um espaço de construção contemporâneo. Mais uma vez, não associado a instituições como museus ou galerias, mas sim a espaços não convencionais e ociosos da cidade. Como você define o seu papel na relação dos artistas com as obras que são criadas? Você se vê como um coautor? Alexandre Guimarães – Sim. É um trabalho de coautoria e de descentralização do processo criativo. A indumentária criada por mim para cada ambiente funciona como catalisadora para a criação das instalações propostas pelos artistas convidados. Ela e seu texto não verbal são os fios condutores. Quais são as principais diferenças entre o projeto em 2012 e hoje, em 2017? Alexandre Guimarães – Muitas. Mas acredito que a principal diferença é colocar o espaço como protagonista. Além disso, a intensificação na pluralidade de linguagens artísticas, a simultaneidade das apresentações dos capítulos e a criação da galeria pop-up também são novidades presentes.

Segundo capítulo do ENTRE Volume I; performance de Paula Carneiro Dias em registro de Tiago Lima.

Que critérios foram usados na escolha dos artistas convidados esse ano? Alexandre Guimarães – Pluralidade e potencialidade. Concebi uma curadoria diversificada, contemporânea e atuante que conseguisse ressignificar os diferentes ambientes que uma casa possui. Ao criar uma weareble art e passa-la para os artistas, perdendo o controle sobre o resultado que virá a partir dessa nova intervenção, você desconecta-se do movimento criativo que surge a partir daí. Que tipo de expectativas, frustrações e prazeres são despertados em você nesse processo? Alexandre Guimarães – Discordo do fato de eu estar desconectado. Se a indumentária é o fio condutor, eu sempre estarei conectado ao movimento criativo. O que acontece é que expectativas e pontos de vista são criados e almejados, mas nunca concretizados. Isso não quer dizer que o processo criativo foi bom ou ruim, apenas que ele não é 100% meu, nem de ninguém. Por que criar uma galeria pop up para exibir os trabalhos do Volume II? Alexandre Guimarães – A confecção dos ambientes poderia acontecer em museus e galerias já existentes na cidade. Entretanto, a busca por locais ociosos, o fomento por novos espaços de produção e difusão artística e a proposta conceitual de ressignificar os ambientes de uma casa não aconteceriam. Você acha que haverá também uma relação do público com as obras propostas? Alexandre Guimarães – Acredito nas vertentes presencial e virtual. Ambas são válidas! Tenho certeza que todos os envolvidos, artisticamente ou tecnicamente, no projeto estão se esmerando para que uma “história histórica” (risos) seja contada.

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